Estou vivendo esse momento mas me encanta o dia que virá com um novo nascer do sol. Ou a noite que lança seus raios prateados sobre a minha vida! Alguns dos textos aqui encontrados são de autores desconhecidos e peço que caso você seja um deles, entre em contato comigo e postarei seus créditos. No mais, minhas palavras são um carinho celebrando a vida e a memória!
domingo, 3 de junho de 2012
Qualquer semelhança com pessoas reais terá sido mera coincidência.(Será?)
Em, 19 de Junho de 2009
O Diário Secreto de Amora Jones
“I don’t drink coffee, take a tea, my dear...”
O Encontro
Amora. Esse é seu nome verdadeiro. Chamam-na Amora como à aquela frutinha pequena e azedinha das geleias. Seu nome é Amora graças a sua mãe, uma típica jovem americana dos anos 60. Sonhadora e romântica. Ela lhe contava suas aventuras enquanto a colocava para dormir. Contava das viagens, dos encontros, das brincadeiras a base de fumo e sonhos. Dos namoros com artistas e políticos da época. De sua gravidez. Sonhos e esperanças. E por fim, anos e anos depois, restou apenas um monte de lembranças amarrotadas na memória já meio cansada e essa frutinha cheia de direitos e vontades. Amora.
Existiam algumas ocasiões em que Amora odiava seu nome. Por exemplo, quando algum idiota o usava para lhe passar uma cantada. Achava de um mau gosto sobrenatural quando o desavisado chegava junto e já despejava em seu ouvido perolas do tipo: “ Um pouquinho dessa geleia no meu pão ia ajudar muito no combate a fome do mundo!” ou então “Amora? Posso experimentar antes de comprar?”. Era para esse tipo de homem que Amora não dava a menor atenção e fugia como o diabo foge da cruz.
Fora isso, ela gostava do seu nome. Era Amora Jones. Amora porque você já sabe e Jones desde o dia em que estava sentada a uma mesa num café no centro da cidade e ouviu uma voz que vinha da mesa de trás recusar gentilmente uma xícara de café oferecida, também gentilmente por um garçom: “I don’t drink coffee, take a tea, my dear...” As palavras ficaram soando insistentemente em seus ouvidos enquanto Amora se esforçava para não olhar para trás e examinar o seu autor. Lutava com sua curiosidade para não se virar e encarar o homem. “Fale mais alguma coisa. Por favor, por favor, por favor...” Precisava ouvir aquela voz quente e melodiosa mais uma vez. “Por favor”, parecia implorar ao desconhecido que, alheio a seu desejo continuava calado e impassível. E se perguntasse alguma coisa? “Que horas, por favor?” Ora sua tola, você tem um relógio aí em seu pulso! “Você sabe onde fica a Rua da Natividade?” Ora, sua idiota! O cara é estrangeiro, como vai saber onde é essa rua que nem você que mora aqui sabe? Desista. Amora já se resignara a nunca mais ouvir aquela voz grossa e melodiosa quando o celular dele tocou. Amora sentiu suas orelhas crescerem até a mesa do estrangeiro e parou de respirar para ouvir sua voz mais uma vez. Você pode estar pensando: coisa mais feia ouvir a conversa dos outros! Ora!... Feio é fazer plástica e pagar à prestação! Nesse caso, fora amor à primeira... palavra! Amora estava completamente apaixonada por uma voz que jamais esqueceria e que também jamais a deixaria em paz. Foi aí que ele falou novamente. Foi o “Hello!” mais lindo que escutou em toda sua vida. E todas as palavras que seguiram ficaram e estão na cabeça de Amora nitidamente gravadas até hoje, anos e anos depois daquela primeira tarde no restaurante “Blue Paradise”. Ele era um típico “english man” de férias num país desconhecido e agora estava discutindo acaloradamente com alguém por telefone, enquanto batia ruidosamente os dedos impacientes sobre a mesa de vidro coberta delicadamente com uma toalha de tecido estampado de flores azuis e lilases. O sotaque inconfundível embalava Amora em seus braços. Estava conversando com uma mulher. Na verdade estavam brigando. Ele não iria hoje. Não poderia ir porque não conseguira passagem, querida! Sim, procurou em outras agencias,querida! Só iria amanhã à noite. “Meu inglesinho vai ficar aqui sozinho!” Amora já assumira a posse antes mesmo de sequer ver seu rosto. “It’s never enough for you... I’m so tired!” Amora escutava tudo que o estranho falava imaginando a mulher que estava do outro lado da linha. Idiota! Como alguém podia brigar com um homem que falava com aquela voz tão gostosa de ouvir? Queria vê-lo, precisava desesperadamente olhar para ele e saber como ele era. Não importava que fosse feio, que não tivesse cabelos, que fosse mal vestido e mesmo que só tivesse um dente na boca seria sua para sempre! Lembrou-se então do truque do espelho. Faria de conta que retocava a maquiagem e finalmente veria seu príncipe encantado! Com mãos trêmulas procurou o zíper de sua bolsa e vasculhou-a até o fundo até encontrar sua “necessaire”, tirou dela seu estojo de pó compacto e levou-o à altura dos olhos procurando capturar o reflexo do homem da outra mesa. Caiu das nuvens. Era ele? Aquela voz pertencia aquela pessoa? Por que Deus era tão bom com algumas pessoas e com outras... Por que, num acesso de bondade, tinha presenteado uma voz maravilhosa a um homem... duas vezes mais maravilhoso ainda? Amora estava se apaixonando outra vez. Começou a tocar no som ambiente “Love is only a feeling” de The Darkness e foi como se todos os astros do universo formassem uma nova constelação ao redor do desconhecido... Sua pele era de um branco suave, não um branco blindado. Um branco que deixaria o sol brincar em seus poros se ele assim o quisesse. Um branco aristocrático e ao mesmo tempo convidativo. Os cabelos tinham um brilho inigualável e brincavam descendo por sobre a gola de sua camisa branca de mangas dobradas abaixo dos cotovelos. Usava óculos Ray-ban que, infelizmente, escondia-lhe os olhos, porém, realçava o vermelho delicioso de sua boca impaciente e nervosa no meio de uma discussão infrutífera. Dedos firmes e másculos seguravam o aparelhinho telefônico. A outra mão girava no ar tentando ajudar nos argumentos expostos à sua interlocutora. Às vezes, nervosamente, ela percorria os cabelos que eram arremessados para trás por dedos de unhas bem aparadas e brilhantes num claro gesto de impaciência. Sobre a mesa havia um prato com garfo e faca pousados um de cada lado e restos de uma torta de figo com espuma de limão e uma xícara com um resto de chá de pêssegos já frio. No encosto da cadeira havia um casaco azul marinho de corte esportivo. De repente o inglês desliga o telefone e o joga sobre a mesa. Olha para os lados e requisita um garçom que atendia uma mesa a poucos metros. “Não, por favor, por favor, Não chame o garçom, não vá embora!” Ele pede a conta enquanto procura uma coisa nos bolsos do casaco. Tira de lá um maço de cigarros e coloca um na boca ( tinha que ter um defeito!). Volta a mexer nos bolsos. Impacienta-se. Ele quer fogo! Amora coloca a mão sobre sua bolsa e sente o volume da caixinha de fósforos de um motel da Lagoa num dos bolsos. “Se eu tivesse coragem!” Pensa. Acender o cigarro do amor da sua vida que brigou com o amor da vida dele (possivelmente) com um fósforo de motel? Ora, e por que não? Trêmula e lentamente levanta-se e anda até a mesa do desconhecido amor da sua vida, calcando o salto de sua sandália de couro castor no chão bem ao ritmo da bateria do The Darkness ... fatalmente, para quem a visse, embora seu coração estivesse a um passo de uma parada. Para na frente dele e risca o fósforo de um só golpe dizendo: “Fire?” Ele se inclina sem olhar para ela e encosta o cigarro na chama comprimindo-o com a boca em sua outra extremidade. Então, tira-o da boca e solta, aliviado, uma grossa nuvem de fumaça no ar. Só quando ele volta a recostar-se na cadeira e começa a agradecer-lhe é que ela vai se recompondo do esforço da investida. “Thanks.. I’m crazy for cigarette.” “E eu por você...” pensou Amora enquanto lhe dirigia um primeiro sorriso. Como ela não fez nenhuma menção em voltar para sua mesa, ele estirou sua mão direita para ela e disse seu nome acompanhado de um sorriso amigável, depois que ela lhe disse o seu a convidou para sentar-se a sua mesa. Não é preciso dizer que Amora aceitou o convite, e quando percebeu estavam conversando animadamente sobre os assuntos mais diversos: trabalho, a cidade, a viagem, a tarde, o friozinho de começo de inverno, o trânsito, a noite, o que ele iria fazer esta noite? Ela perguntou-lhe descaradamente! “Nothing” Ele respondeu depois explicou que havia perdido um vôo e esperaria até o dia seguinte. Como se ela não já o soubesse! Depois de conversarem indefinidamente sobre várias outras coisas, Amora o convidou para irem ao seu apartamento que, milagrosamente, ficava ali bem pertinho, a apenas uns quatro quarteirões dali. Iriam andando e conversando. E quando Amora piscou os olhos de novo já estavam na porta do restaurante. Ele oferecendo gentilmente o braço para que ficassem mais juntos e assim se protegessem da chuva fina, que agora molhava a calçada, na sombrinha azul clara com corações desenhados que Amora sempre trazia em sua bolsa,. Um perfeito cavalheiro! Sentiu-se protegida e feliz. Estava se apaixonando de novo.
O resto da estória você já deve estar imaginando: Subiram pelas escadas até o 3º andar, onde Amora morava. Quando tentou abrir a porta Amora estava nitidamente nervosa, pois deixou a chave cair duas vezes. Na última ele gentilmente se baixou e a pegou e sorrindo a introduziu na fechadura e a rodou duas vezes. Entraram. Amora o acomodou num dos sofás brancos da sala impecavelmente arrumada. O cheiro tão familiar de alfazema impregnava o ar dando uma sensação deliciosa. Amora guardou o casaco dele numa mesinha num recanto, ao lado de um jarro com uma grande braçada de copos de leite. Ofereceu-lhe um chá, uma água, uma bebida, talvez? Que tal um vinho com um queijo? Ele aceitou. Apreciava vinhos e queijos. Amora exultou. Ela só tinha vinho e queijo. Ela saiu em direção a cozinha para pegar umas taças e ele a seguiu. Sentia-se totalmente a vontade na casa de uma estranha? E se ela o atacasse e lhe roubasse um beijo? Amora não parava de pensar em todas as possibilidades!...E se ele fosse um maníaco? E se tentasse abusar dela? Se aproveitar? Ora, por favor! Faça isso! Abuse a vontade. Aproveite o bastante! Antes que eu o faça...
Foi quando estavam sentados à mesa da cozinha separados apenas por um arranjo de miniaturas de girassóis e já na segunda garrafa de vinho, que ele pegou em sua mão. Estava contando sobre a briga que tivera ao telefone um pouco antes dela acender seu cigarro e que o deixou com os nervos a flor da pele. Ela já sabia. Disse que estava furioso. Ela também já sabia. Disse que era uma injustiça. Ela também sabia. Disse que estava discutindo com sua esposa...Era o que ela temia. Mas, afinal, uma coisinha daquela jamais poderia andar pelo mundo sem dona. Disse que estava tão furioso que se pudesse ficaria mais uma semana longe...só pra dar uma lição! Amora se ofereceu para lhe fazer companhia, caso resolvesse mesmo pregar a tal peça! Foi quando ele sorriu, enquanto sua mão direita tocou a sua e seus dedos entrelaçaram os dela... “You’re so unreal” disse com um leve sorriso num canto da boca. Amora não encontrou uma só palavra para dizer naquele momento, e sentiu o rosto dele aproximando-se do seu bem lentamente como se estivessem sendo filmados e o diretor desse a ordem: “ Bem devagar, bem devagar”. Aos poucos Amora começou a sentir a respiração dele e anteviu o gosto doce que o vinho teria deixado em sua boca. Estavam tão perto um do outro que um leve estrabismo surgiu nos olhos castanhos que o Ray-ban escondera a tarde inteira. Então se beijaram. Primeiro levemente como uma brisa que irisa apenas as pontas dos trigais. Lentamente como o ocaso caindo sobre as montanhas e pintando o dia de alaranjado. Depois, quando começou a sentir a mão dele em suas costas apertando-a levemente contra si, foi se tornando cada vez um pouco mais voraz, a cada momento cada vez mais urgente... e aí, já era devastador como um vento forte que começa rodopiando pelas campinas e sem perceber se transforma num cone que chega até o céu arrebatando tudo que encontra pelo caminho. Havia mesmo gosto de vinho e enquanto sentia a língua dele acariciando lentamente a sua, podia ouvir os sinos de todas as igrejas do continente baterem em uníssono. Quando sentiu a palhinha da cadeira arranhando a parte de dentro das pernas de seu jeans foi que percebeu que já estava sentada sobre as pernas dele e suas mãos já tateavam suas costas sob a blusa de seda verde que ela usava. Estavam ofegantes e o beijo que já durava vários e vários minutos parecia querer sugá-los um para dentro do outro. Amora sentiu um clic no fecho do seu sutien e as mãos dele percorreram suas costas sem aquele obstáculo, até que uma delas transpôs a barreira de seus braços e tocou levemente um de seus seios. A respiração dele ficou mais forte. Ele pressionou seu seio com mais vigor e desceu os lábios pelo pescoço moreno da mulher. Ela agora já não mais entendia o que se passava a seu redor. Não ouvia mais os sinos. Percebia todos os sons do mundo juntos... Não tinha como parar. Nem queria!
Sentiu o homem sob ela se levantando da cadeira. Agarrou-se firmemente a seu pescoço e entrelaçou suas pernas em volta do corpo dele. Ele deu alguns passos e a encostou numa das paredes brancas da cozinha onde a pousou no chão e ficaram ali por mais outros tantos minutos colados um no outro, como se estivessem se medindo, centímetro por centímetro, enquanto se beijavam ardentemente. Foi Amora que tomou a iniciativa de saírem da cozinha. Sem se largarem, ela o conduziu pelo corredor coberto de pedras sabão até a porta de seu quarto. A luz que vinha da cozinha e da sala iluminava agradavelmente o quarto onde o cheiro de alfazema era inebriante. Eles se entreolharam e sorriram sem afastar os lábios, cúmplices. “We are crazy...” disse desabotoando e puxando o tecido fino da blusa dela. Amora fez o mesmo com a camisa dele, em seguida abriu o zíper da calça dele e o ajudou a livrar-se dela e de todas as outras peças que lhe cobriam o corpo. Ele a imitou e em poucos segundos estavam em sua cama continuando uma estória que se iniciou com uma simples frase: “I don’t drink coffee. Take a Tea, my dear...”
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